Promotor
Óbidos Criativa E.M.
Breve Introdução
SINFONIAS PAR
As sinfonias de número par escritas por Beethoven costumam ser relegadas para um segundo plano, sobretudo diante das disposições heróica e épica da Terceira e da Quinta, ou da monumentalidade da Nona. Somente a Sexta, no seu registo bucólico, goza de uma popularidade minimamente comparável. É frequente a opinião de que as Sinfonias Par (chamemos-lhes assim) terão sido compostas em momentos de maior relaxamento do compositor, em resultado da exigência titânica decorrente da produção de cada uma das outras. Também se diz que Beethoven explorou aí a sua personalidade mais reflexiva, por contraste com a faceta dionisíaca que libertou nas restantes. Neste concerto temos a oportunidade de escutar duas delas. São a Quarta e a Oitava, as quais poderão revelar algumas surpresas. A ideia de que a Quarta Sinfonia é uma obra de ânimo afável e dramaticamente comedido deve-se a comparações apressadas com a Terceira e a Quinta. Schumann descreveu-a como uma donzela grega elegante entre dois gigantes da mitologia nórdica. Na realidade, trata-se de uma partitura com um alcance expressivo bastante mais ambicioso do que aparenta. É certo que não se compara no arrebatamento dramático e na ousadia formal que então rompiam os paradigmas técnicos e estéticos, mas seria um equívoco considerá-la como «um passo a trás», ou pensar que Beethoven abdicou da sua propensão progressista, só porque aparenta recrear-se por vivências mais íntimas e harmoniosas, sem aludir a grandes causas humanistas. Para lá da exaltação poética, há também lugar a ambientes sombrios, movimentos obstinados, pausas meditativas, hesitações cirurgicamente calculadas e demonstrações de força inabalável. Já no que respeita à Oitava, conta-se que, numa ocasião em que foi confrontado com o facto de esta ter conquistado menos sucesso do que a anterior, a Sétima, Beethoven terá respondido que «assim acontecia porque era bastante melhor». Cabe hoje a cada um de nós esse julgamento. É certo que a Sétima Sinfonia é uma obra espetacular, mas a Oitava é tão bem humorada quanto intrigante. Tem características pouco usuais. Como exemplo, o primeiro andamento apresenta uma construção inesperada. Reserva para a coda – a secção conclusiva – uma duração invulgarmente extensa e a
função de construir o único clímax dramático existente. Por sua vez, o segundo andamento deveria ser mais longo e lento, mas Beethoven evitou que assim acontecesse. E por aí em diante! Esta Oitava Sinfonia é uma obra «desconcertante». Por um lado, tudo nela aparenta normalidade. Porém, quando se ouve com mais atenção, levanta
pergunta atrás de pergunta.
Interpretação
ORQUESTRA METROPOLITANA DE LISBOA
PEDRO AMARAL MAESTRO
Nascido em Lisboa (1972), Pedro Amaral, compositor e maestro, é um dos músicos europeus mais ativos da nova geração. Inicia os estudos em composição como aluno privado de Lopes-Graça, a partir de 1986, ao mesmo tempo que prossegue a sua formação musical geral, no Instituto Gregoriano (1989/91). Ingressa depois na Escola Superior de Música de Lisboa onde conclui o curso de composição na classe do professor Christopher Bochmann, em 1994. Instala-se em Paris, onde estuda com Emmanuel Nunes no Conservatório Superior, graduando-se com o Primeiro Prémio em Composição por unanimidade do júri. Estuda ainda direção de orquestra com Peter Eötvös (Eötvös Institute, 2000) e Emilio Pomàrico (Scuola Civica de Milão, 2001). Paralelamente à sua formação musical prática, prossegue os estudos universitários na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris obtendo, em 1998, Mestrado em Musicologia Contemporânea com uma tese sobre Gruppen de K. Stockhausen – com quem trabalha como assistente em diferentes projetos – e, em 2003, um doutoramento com uma tese sobre Momente e a problemática da forma na música serial. Em maio de 2010, estreou em Londres a sua ópera O sonho, a partir de um drama inacabado de Fernando Pessoa. Unanimemente aplaudida pela crítica, a obra foi interpretada por um prestigioso elenco de cantores portugueses acompanhados pela London Sinfonietta sob a direção do compositor, tendo sido apresentada em Londres e Lisboa. Como compositor e/ou maestro, Pedro Amaral trabalha regularmente com diferentes ensembles e orquestras, nacionais e estrangeiros. Foi maestro titular da Orquestra do Conservatório Nacional (2008/09) e do Sond’Ar-Te Electric Ensemble (2007/10). Desde o ano letivo de 2007/2008, é Professor Auxiliar da Universidade de Évora (Composição, Orquestração e disciplinas afi ns). Desde julho de 2013, Pedro Amaral é diretor artístico e pedagógico da AMEC /
Metropolitana.
Notas Suplementares
Ludwig van Beethoven (1770-1827)
Abertura Coriolano, Op. 62 (1807)
(duração aproximada: 8’)
Sinfonia N.º 8 em Fá Maior, Op. 93 (1812)
(duração aproximada: 26’)
I. Allegro vivace e con brio
II. Allegretto scherzando
III. Tempo di minuetto
IV. Allegro vivace
Intervalo
Sinfonia N.º 4 em Si Bemol Maior, Op. 60
(1806)
(duração aproximada: 32’)
I. Adagio - Allegro vivace
II. Adagio
III. Minuetto: Allegro vivace
IV. Allegro ma non troppo